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Advogada, Professora, Especialista em Direito Administrativo; Direito Previdenciário; Pedagogia Escolar: supervisão e orientação; Metodologia da Ciência; Metodologia do Ensino Superior e Direito Educacional. Representante do Fórum Paranaense da Pessoa Idosa no Conselho Estadual do Direito da Pessoa Idosa do Paraná – CEDI PR, integrante do Fórum Paranaense da Pessoa Idosa – FPPII, Membro Efetivo da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Ordem dos Advogados do Brasil - seção Paraná e Membro Efetivo da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil - ,seção Paraná,. Estudiosa do Envelhecimento, Longevidade e dos Direitos inerentes à Pessoa Idosa. E-mail: adv.rosangela.s@gmail.com

25 maio 2013


 

MULHER GUERREIRA

Rosangela Schmidt 

Fim de tarde num parque como outro qualquer, um carro chega lentamente, estaciona. À frente da motorista muitos transeuntes passeiam, divertem-se. Ela desce, atravessa a ciclo via, cruza o extenso gramado e acomoda-se diante do lago. Lágrimas cortam-lhe a face enquanto a tristeza abraça o seu corpo.
Com os olhos fixos no limiar do infinito com o real, ela pensa. De inicio reflete sobre situações vivenciadas e tão semelhantes às últimas apresentadas. Já venceu tantas batalhas, obteve inúmeros êxitos, porém como toda a novidade oriunda do inesperado, surge à incerteza da existência de forças internas para, outra vez, lutar e, assim, acrescentar mais um capítulo neste livro da sua história.
Sufocada pelo inesperado, a jovem mulher, reporta-se aos dias que seguiram à vitória que despertou em seu ser uma imensa alegria da certeza do fechar de um ciclo, cuja esperança, naquele momento, tomou conta do seu íntimo não cedendo mais o lugar ao sofrimento e a dor. Porém, como se a vida sempre necessitasse repetir a história, ela desperta de sonhos encantadores e cai na realidade, na qual cada fato atrai imediatamente outro, com a mesma intensidade e, ambos unem-se a tantos outros para formarem o redemoinho da vida.
Seu olhar encontra-se tão perdido quanto desiludido. Outrora fora protagonista de incansável guerra pela sobrevivência e, agora, procura encontrar àquela mulher guerreira, que há muito julgava aposentada dentro de si e, assim buscar em seu desassossego forças que emanem de suas entranhas o desejo incontrolável para, novamente, atingir a vitória.
Porém, nas primeiras batalhas, a novidade pairava no ar. Agora conhece as faces desta guerra. Compreende que não basta o querer tão somente, há de existir a mínima esperança para que erga sua clava e combata os medos que circunscrevem os limites de suas forças. São temores que induzem-na a dizer sim, ao destino escrito por outras mãos.
Da última batalha à contemporaneidade, essa mulher, aprendeu que viver é dom e entregar-se é covardia. Mais ainda, medos decorrem de incertezas, são frutos de fatos desconhecidos e por assim o serem, rodeiam as mentes dos seres humanos e os fracos caem, fraquejam são absorvidos pela desesperança e amargura, sentem-se vencidos trancafiados na masmorra do abandono.
Viver requer empunhar bem alto e forte a perseverança como meio indutivo para redescobrir novos caminhos e reconvir a felicidade. Ao bradar, alto: “Vida”, estará, ela, direcionando sua voz a todos os momentos, desvelando incógnitas e, a esse modo, impulsionará a roda da vida para que surja, em meio ao caos, à luz da esperança.
Seu olhar, seus verdes olhos marejados de lágrimas traduzem a tristeza do ato. Seu íntimo de mulher guerreira encontra-se despreparado e desatento, fora fulminado pela novidade. Ela continua inerte, pasma, envolta aos pensamentos.
Essa mulher conhece sua força, sabe que acontecimentos inéditos podem abalar seu ser porque nem ela, nem ninguém, jamais está preparado aos imprevistos da vida. Entretanto, faz parte dela o otimismo, a independência e a certeza da vitória.
Já mergulhou em momentos repletos de incertezas e de notícias desperançosas. Enquanto ouvia repetidas vozes bradarem da impossibilidade das ações, lançou-se como furacão à vida e nesse destemido ato chamou para si a liderança da situação e, suas mãos afastaram as de terceiros permitindo que, ela, rescrevesse a sua história sob a ótica da mulher guerreira.
Essa mulher veio ao mundo para ser alegre, feliz e atingir metas por ela delineadas. Assim, se for necessário travar inúmeras batalhas, com certeza estará, sempre, à frente dos medos e incertezas e, enquanto houver resquícios de esperança, demonstrará, àqueles ao seu lado, que é capaz de vencer pacientemente as marcas de uma vida de  pesar solitário e continuar essa luta  contrária as opiniões e ações comuns, objetivando embebedar-se nas fontes do amor e da vida, de expectativas futuras.
Ainda, com o olhar perdido e a face marcada pela dor, essa mulher levanta. Sua visão no mesmo instante que atinge o infinito volta-se ao presente e, ao respirar profundamente, fecha seus olhos e por instantes a visão do mundo toma conta do seu querer e, ao reabrir suas pálpebras empunha a esperança e parte rumo ao amor pela vida.
 
 
 

24 maio 2013


ALÇAR VOO

ROSANGELA SCHMIDT

          Um pássaro pula de galho em galho, parte rumo ao infinito, plana e, ao pousar, a melodia do seu canto irradia alegria.

          Certo dia o pássaro pára de voar e alegrar a vida, torna-se por longo período triste e cabisbaixo,  pensa.... mas resiste de todas as formas, esforça-se para alçar voo, cai inúmeras vezes, machuca-se, porém não desiste, segue de modo árduo, é perseverante e, um dia, cansado de tanto insistir naquilo que parece ser  impossível, encontra alguém que o acolhe, lhe dá carinho, cuida e ajuda a  libertar-se de dores, até então, compreendidas como intransponíveis e, segue, agora não mais sozinho.

          Numa manhã fria de inverno, o pássaro, reinicia a tentativa de voo e  neste momento o céu torna-se o seu limite. Parte em linha reta rumo ao infinito, dá cambalhotas no ar, realiza imensos círculos, abre suas asas e plana..... pousa no galho mais alto e canta, canta a felicidade que enche e fortifica cada vez mais seus seus frágeis pulmões..... seu canto ecoa longe, todos páram e admiram..... nunca viram tamanha grandeza numa melodia. É o som da liberdade, da superação por meio da acolhida.

          Muitos anos se passaram e esse pássaro tornou-se cada vez mais feliz, sua pequena existência ganhou sentido, encontrou a felicidade de viver, de vencer e seguiu agradecendo, sempre, pelo dom da vida.

          Nem todas as histórias possuem final feliz. Certa tarde, o pássaro, em pleno voo tem uma de suas asas fraturadas, cai, esborracha-se no solo. A melodia do seu canto é de dor, de tristeza ao sentir que faltam forças para seguir. Muitos que o veem nesse momento de pesar, olham sem nada compreender. Inerte, com o olhar perdido no infinito, o pássaro, reflete sobre o porque dos acontecimentos, não compreende as causas que levaram-no a um novo sofrimento. Encontra-se, ele,   sem perspectiva, desesperado. O seu canto é de tristeza, sente o chegar da hora de não mais dividir as alegrias de estar vivo com o som do vento, o frio da madrugada, o nascer e o por do Sol, as gotas da chuva sobre seu corpo e tantos outros acontecimentos que passam diariamente sem serem percebidos. Está só e não quer ninguém do seu lado, deseja ficar com seu fardo, lamenta-se, sofre em silêncio.

          Não era até então, do conhecimento do pássaro, que muitos o amavam e que além de admirarem o seu canto cantarolavam ao som dele, o pássaro refletia alegria sempre que surgia. No momento em que o canto silenciou, muitos procuraram saber do acontecido. O pássaro fechado no seu mundo cala-se. Muitos desistiram e buscaram outros meios que alegrassem suas vidas. Entretanto, alguns insistiram, permaneceram ao seu lado, fizeram com que o pássaro, ressoasse  numa última melodia seus sentimentos  que tocou os corações daqueles que insistiam em ficar e, assim, ampararam o pássaro de asa quebrada para que pudesse refletir sobre o amor que unia ele aos que sempre acreditaram na sua força, otimismo e alegria de enxergar o mundo sempre numa perspectiva positiva.

          O pássaro, muito machucado e demais desesperançado, encolheu-se nos braços abertos à sua frente e, neste momento a dor do seu canto feriu profundamente as almas de todos que estavam ao seu redor. Aos poucos, aqueles que o amparavam, compreenderam o significado dessa asa quebrada para o pássaro e vivenciaram uma dor sem limites, na qual não cabiam palavras e, sim, o acolher, o calor humano. A única forma de ajuda encontrada foi a solidariedade, nada mais poderia ser feito, a asa não mais retornaria ao status quo ante, mas o pássaro deveria aceitar e continuar lutando com forças além das imagináveis, em busca da superação.

          Hoje, o pássaro encontra-se feliz dentro de suas limitações. Busca sentir cada dia como único e vive de forma a retirar, dos momentos que ainda pode usufruir, as alegrias, o amor a esperança de continuar por muitos anos vivendo, mesmo com limitações, junto daqueles que sempre acreditaram na sua força, não o abandonaram no momento mais delicado e desesperançado que envolveu sua frágil existência.