ALÇAR VOO
ROSANGELA SCHMIDT
Um pássaro pula de
galho em galho, parte rumo ao infinito, plana e, ao pousar, a melodia do seu
canto irradia alegria.
Certo dia o pássaro
pára de voar e alegrar a vida, torna-se por longo período triste e
cabisbaixo, pensa.... mas resiste de
todas as formas, esforça-se para alçar voo, cai inúmeras vezes, machuca-se,
porém não desiste, segue de modo árduo, é perseverante e, um dia, cansado de
tanto insistir naquilo que parece ser
impossível, encontra alguém que o acolhe, lhe dá carinho, cuida e ajuda
a libertar-se de dores, até então, compreendidas
como intransponíveis e, segue, agora não mais sozinho.
Numa manhã fria de
inverno, o pássaro, reinicia a tentativa de voo e neste momento o céu torna-se o seu limite.
Parte em linha reta rumo ao infinito, dá cambalhotas no ar, realiza imensos
círculos, abre suas asas e plana..... pousa no galho mais alto e canta, canta a
felicidade que enche e fortifica cada vez mais seus seus frágeis pulmões.....
seu canto ecoa longe, todos páram e admiram..... nunca viram tamanha grandeza
numa melodia. É o som da liberdade, da superação por meio da acolhida.
Muitos anos se
passaram e esse pássaro tornou-se cada vez mais feliz, sua pequena existência
ganhou sentido, encontrou a felicidade de viver, de vencer e seguiu
agradecendo, sempre, pelo dom da vida.
Nem todas as
histórias possuem final feliz. Certa tarde, o pássaro, em pleno voo tem uma de
suas asas fraturadas, cai, esborracha-se no solo. A melodia do seu canto é de
dor, de tristeza ao sentir que faltam forças para seguir. Muitos que o veem
nesse momento de pesar, olham sem nada compreender. Inerte, com o olhar perdido
no infinito, o pássaro, reflete sobre o porque dos acontecimentos, não
compreende as causas que levaram-no a um novo sofrimento. Encontra-se,
ele, sem perspectiva, desesperado. O
seu canto é de tristeza, sente o chegar da hora de não mais dividir as alegrias
de estar vivo com o som do vento, o frio da madrugada, o nascer e o por do Sol,
as gotas da chuva sobre seu corpo e tantos outros acontecimentos que passam
diariamente sem serem percebidos. Está só e não quer ninguém do seu lado,
deseja ficar com seu fardo, lamenta-se, sofre em silêncio.
Não era até então, do
conhecimento do pássaro, que muitos o amavam e que além de admirarem o seu
canto cantarolavam ao som dele, o pássaro refletia alegria sempre que surgia.
No momento em que o canto silenciou, muitos procuraram saber do acontecido. O
pássaro fechado no seu mundo cala-se. Muitos desistiram e buscaram outros meios
que alegrassem suas vidas. Entretanto, alguns insistiram, permaneceram ao seu
lado, fizeram com que o pássaro, ressoasse
numa última melodia seus sentimentos
que tocou os corações daqueles que insistiam em ficar e, assim,
ampararam o pássaro de asa quebrada para que pudesse refletir sobre o amor que
unia ele aos que sempre acreditaram na sua força, otimismo e alegria de
enxergar o mundo sempre numa perspectiva positiva.
O pássaro, muito
machucado e demais desesperançado, encolheu-se nos braços abertos à sua frente
e, neste momento a dor do seu canto feriu profundamente as almas de todos que
estavam ao seu redor. Aos poucos, aqueles que o amparavam, compreenderam o
significado dessa asa quebrada para o pássaro e vivenciaram uma dor sem
limites, na qual não cabiam palavras e, sim, o acolher, o calor humano. A única
forma de ajuda encontrada foi a solidariedade, nada mais poderia ser feito, a
asa não mais retornaria ao status quo
ante, mas o pássaro deveria aceitar e continuar lutando com forças além
das imagináveis, em busca da superação.
Hoje, o pássaro
encontra-se feliz dentro de suas limitações. Busca sentir cada dia como único e
vive de forma a retirar, dos momentos que ainda pode usufruir, as alegrias, o
amor a esperança de continuar por muitos anos vivendo, mesmo com limitações,
junto daqueles que sempre acreditaram na sua força, não o abandonaram no
momento mais delicado e desesperançado que envolveu sua frágil existência.
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