MULHER GUERREIRA
Rosangela Schmidt
Fim
de tarde num parque como outro qualquer, um carro chega lentamente,
estaciona. À frente da motorista muitos transeuntes passeiam,
divertem-se. Ela desce, atravessa a ciclo via, cruza o extenso
gramado e acomoda-se diante do lago. Lágrimas cortam-lhe a face
enquanto a tristeza abraça o seu corpo.
Com
os olhos fixos no limiar do infinito com o real, ela pensa. De inicio
reflete sobre situações vivenciadas e tão semelhantes às últimas
apresentadas. Já venceu tantas batalhas, obteve inúmeros êxitos,
porém como toda a novidade oriunda do inesperado, surge à incerteza
da existência de forças internas para, outra vez, lutar e, assim,
acrescentar mais um capítulo neste livro da sua história.
Sufocada
pelo inesperado, a jovem mulher, reporta-se aos dias que seguiram à
vitória que despertou em seu ser uma imensa alegria da certeza do
fechar de um ciclo, cuja esperança, naquele momento, tomou conta do
seu íntimo não cedendo mais o lugar ao sofrimento e a dor. Porém,
como se a vida sempre necessitasse repetir a história, ela desperta
de sonhos encantadores e cai na realidade, na qual cada fato atrai
imediatamente outro, com a mesma intensidade e, ambos unem-se a
tantos outros para formarem o redemoinho da vida.
Seu
olhar encontra-se tão perdido quanto desiludido. Outrora fora
protagonista de incansável guerra pela sobrevivência e, agora,
procura encontrar àquela mulher guerreira, que há muito julgava
aposentada dentro de si e, assim buscar em seu desassossego
forças que emanem de suas entranhas o desejo incontrolável
para, novamente, atingir a vitória.
Porém,
nas primeiras batalhas, a novidade pairava no ar. Agora conhece as
faces desta guerra. Compreende que não basta o querer tão somente,
há de existir a mínima esperança para que erga sua clava e combata
os medos que circunscrevem os limites de suas forças. São temores
que induzem-na a dizer sim, ao destino escrito por outras mãos.
Da
última batalha à contemporaneidade, essa mulher, aprendeu que viver
é dom e entregar-se é covardia. Mais ainda, medos decorrem de
incertezas, são frutos de fatos desconhecidos e por assim o serem,
rodeiam as mentes dos seres humanos e os fracos caem, fraquejam são
absorvidos pela desesperança e amargura, sentem-se vencidos
trancafiados na masmorra do abandono.
Viver
requer empunhar bem alto e forte a perseverança como meio indutivo
para redescobrir novos caminhos e reconvir a felicidade. Ao bradar,
alto: “Vida”, estará, ela, direcionando sua voz a todos os
momentos, desvelando incógnitas e, a esse modo, impulsionará a roda
da vida para que surja, em meio ao caos, à luz da esperança.
Seu
olhar, seus verdes olhos marejados de lágrimas traduzem a tristeza
do ato. Seu íntimo de mulher guerreira encontra-se despreparado e
desatento, fora fulminado pela novidade. Ela continua inerte, pasma,
envolta aos pensamentos.
Essa
mulher conhece sua força, sabe que acontecimentos inéditos podem
abalar seu ser porque nem ela, nem ninguém, jamais está preparado
aos imprevistos da vida.
Entretanto, faz parte dela o otimismo, a independência e a certeza
da vitória.
Já
mergulhou em momentos repletos de incertezas e de notícias
desperançosas. Enquanto ouvia repetidas vozes bradarem da
impossibilidade das ações, lançou-se como furacão à vida e nesse
destemido ato chamou para si a liderança da situação e, suas mãos
afastaram as de terceiros permitindo que, ela, rescrevesse a sua
história sob a ótica da mulher guerreira.
Essa
mulher veio ao mundo para ser alegre, feliz e atingir metas por ela
delineadas. Assim, se for necessário travar inúmeras batalhas, com
certeza estará, sempre, à frente dos medos e incertezas e, enquanto
houver resquícios de esperança, demonstrará, àqueles ao seu lado, que é capaz de vencer pacientemente as marcas
de uma vida de pesar solitário e continuar essa luta contrária as opiniões e
ações comuns, objetivando embebedar-se nas fontes do amor e da
vida, de expectativas futuras.
Ainda,
com o olhar perdido e a face marcada pela dor, essa mulher levanta. Sua visão no mesmo instante que atinge o infinito volta-se ao
presente e, ao respirar profundamente, fecha seus olhos e por
instantes a visão do mundo toma conta do seu querer e, ao reabrir
suas pálpebras empunha a esperança e parte rumo ao amor pela vida.
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