Quem sou eu

Minha foto
Advogada, Professora, Especialista em Direito Administrativo; Direito Previdenciário; Pedagogia Escolar: supervisão e orientação; Metodologia da Ciência; Metodologia do Ensino Superior e Direito Educacional. Representante do Fórum Paranaense da Pessoa Idosa no Conselho Estadual do Direito da Pessoa Idosa do Paraná – CEDI PR, integrante do Fórum Paranaense da Pessoa Idosa – FPPII, Membro Efetivo da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Ordem dos Advogados do Brasil - seção Paraná e Membro Efetivo da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil - ,seção Paraná,. Estudiosa do Envelhecimento, Longevidade e dos Direitos inerentes à Pessoa Idosa. E-mail: adv.rosangela.s@gmail.com

20 setembro 2021

UMA QUESTÃO PARA QUEBRAR O SILÊNCIO: O envelhecimento humano

A velhice é um fenômeno biológico; é uma realidade que transcende a história das civilizações; vivenciada de diversas formas conforme o contexto social que o humano encontra-se inserido. Trata-se da responsabilidade do sistema social/político/cultural/econômico para com seus idosos, ou seja,  em qual condição esta sociedade aborda as dificuldades dos longevos? Qual a posição do Estado? Como  são tratados por seus governantes, familiares e gerações mais jovens?  

Verdade é que a velhice não é uma questão estática; é o resultado e o prolongamento de um processo contínuo e progressivo: o envelhecimento humano visto não só como um fato biológico, mas também um fato histórico/sócio/econômico/cultural/político.

O envelhecimento humano trás inúmeras reflexões. Uma delas nasce da consciência social do que significa o termo “velho”; será essa a melhor denominação aos seres humanos que prolongaram a própria adolescência por muitos anos? Ser “velho” é estar condenado à miséria, à solidão, às deficiências, ao desespero? Ao chamar alguém de “velho” significa negar a própria condição humana de que os jovens de hoje tornar-se-ão os idosos do futuro e, que somente envelhecerão se continuarem vivos?

Certo é que muitas sociedades, infelizmente, tratam seus idosos com desprezo, considerando-os como improdutivos, de força econômica incapaz de gerar riquezas e consequentemente sem meios de fazer valer seus direitos. Esquecem, entretanto, que esse tipo de entendimento, além de injusto e imoral, rompe com a solidariedade existente entre trabalhadores em atividade laboral com os que já ocuparam esses postos de trabalho.

O envelhecimento humano no mundo capitalista é cruel; privilegiados e mandarinatos decidem o destino da massa. Com a economia fundamentada no lucro, só há interesse por aquele que produz; condenando grande parte, senão a maioria, de longevos a miséria; largando-os ao próprio destino de solidão e desespero. De outra via, se o vetusto acumulou riquezas ao longo dos anos, certamente sua qualidade de vida é diversa do idoso que não possui bens ou casa própria e vive da sua diminuta aposentadoria.

Assim, envelhecer numa sociedade capitalista, segundo Marx, é a exploração pelo trabalho. Ou, ainda, conforme Beauvoir, envelhecer numa sociedade capitalista que só se preocupa com os indivíduos na medida em que produzem força de trabalho, nem sempre haverá autonomia para escolher a forma para viver e envelhecer com qualidade de vida.

O envelhecimento e a relação com determinações históricas, políticas, econômicas, sociais e culturais são indissociáveis na medida em que o Estado reduz ou elimina direitos da pessoa idosa e, consequentemente, ao contrário de buscar formas de proteção social, o Estado, pelas mãos de legisladores empenhados na afirmação do capital como única forma de suprir necessidades, se encarrega de dar legalidade às formas que eliminam as conquistas garantidoras de proteção social., colocando-se, explicitamente, a favor do capital financeiro.

                    ******       ******

“Quando Buda era ainda o príncipe Sidarta, encerrado por seu pai num magnífico palácio, dele escapuliu várias vezes para passear de carruagem nas redondezas. Na primeira saída, encontrou um homem enfermo, desdentado, todo enrugado, encarecido, curvado, apoiado numa bengala, titubeante e trêmulo. Espantou-se, e o cocheiro lhe explicou o que era um velho: “Que tristeza”, exclamou o príncipe, “que os seres fracos e ignorantes, embriagados pelo orgulho próprio da juventude, não vejam a velhice! Voltemos rápido para casa. De que servem os jogos e as alegrias, se eu sou a morada da futura velhice?”

Buda reconheceu num velho seu próprio destino porque, nascido para salvar os homens, quis assumir a totalidade de sua condição”. (BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. 2. Ed.. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018)


Esperança de vida ao nascer, 1900 a 2050. Fonte: IBGE, Dados históricos do censo (disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censohistorico/default.shtm?c=1); IBGE, Projeção da população do Brasil para o período 1980-2050 – Revisão 2004. Acesso em: 20/09/2021.

Esperança de vida ao nascer, 1900 a 2050. Fonte: IBGE, Dados históricos do censo (disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censohistorico/default.shtm?c=1); IBGE, Projeção da população do Brasil para o período 1980-2050 – Revisão 2004. Acesso em: 20/09/2021.

REFERÊNCIAS

Beauvoir, Simone de. A velhice. 2. Ed.  Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

Marx K. O capital: crítica da economia política.. 16. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1998.

Agência IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, notícias. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/9490-em-2015-esperanca-de-vida-ao-nascer-era-de-75-5-anos. Acesso em 20/09/2021.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, notícias:
Esperança de vida ao nascer, 1900 a 2050. Dados históricos do censo .Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censohistorico/default.shtm?c=1); IBGE, Projeção da população do Brasil para o período 1980-2050 – Revisão 2004. Acesso em 20/09/2021.

Nenhum comentário:

Postar um comentário