Burnout-Queimando-se.
Muitos profissionais são acometidos por diversos problemas de saúde, dos quais desconhecem. Na área da educação, fazendo referência principalmente ao professor que atua em sala de aula, existem muitos estudos que comprovam distúrbios psíquicos, entre eles a SÍNDROME DE BORNOUT. Sendo muitas vezes confundida com um esgotamento emocional, até que se torne crônico, acarretando sentimentos de fracasso e baixa auto-estima, acompanhados de sintomas físicos como a exaustão, a alteração no sono e problemas gastrointestinais.
Acredito, por ser portadora de tal síndrome, que existem dificuldades no diagnóstico imediato e preciso desta doença ocupacional, principalmente pelo modo em que se manifesta no sujeito. A principio pode parecer apenas, um esgotamento pessoal interferindo diretamente na vida cotidiana e não, necessariamente na sua relação com o trabalho, sendo compreendida como estresse genérico, ao qual todos os indivíduos sãos suscetíveis.
Entretanto, devido ao contato direto, excessivo e estressante do professor com outras pessoas (alunos, pais, equipe pedagógica, direção, funcionários de secretarias, conselho tutelar, entre outros), gera uma tensão crônica acompanhada por longos períodos de pressão emocional, levando esse profissional a avaliação negativa de si mesmo, a depressão e a insensibilidade com relação a quase tudo e todos. A ausência de alegria, de entusiasmo, de satisfação, de interesse, de ideias, de concentração, de auto-confiança, de humor e de perspectiva de futuro evidenciam a SÍNDROME DE BURNOUT.
Pelas características constatadas na sociedade moderna, ao que se refere no avanço científico, tecnológico e social, as mudanças no modo de viver e conviver entre os indivíduos criam cada vez mais expectativa a novas necessidades. Vivencia-se no âmbito escolar o distanciamento do conhecimento construído ao longo do tempo com necessidade de respostas prontas e imediatistas, sem interesse do contexto cultural de tal informação, pois a comunidade estudantil acredita que todas as respostas podem ser encontradas por meios eletrônicos, não dando importância a argumentação escrita e oral de tal fato.
Dessa forma observa-se que o trabalho do professor em sala de aula, rodeado por diversos fatores conflitantes (raciais, econômicas, sociais, culturais, etc.) causa um grande desgaste físico e psicológico a esses trabalhadores, que na maioria das vezes não sabem identificar o que está acontecendo, reagindo com constantes ausências ao serviço, agredindo verbalmente e fisicamente alunos, colegas de profissão, familiares, entre outros. Estando doente e negando o fato e/ou não querendo acreditar que esta sofrendo de transtornos emocionais e físicos e, assim necessitando de ajuda médica. Zombam das normas e rotinas do ambiente de trabalho, ironizam qualquer situação, sendo incapazes de realizações e conquistas, renunciando suas vidas e suas aspirações, acreditando que dessa forma contribuem positivamente as transformações sociais. E assim continuam, atuando em mais de um local de trabalho, assumindo cada vez mais o aumento de carga horária em ambientes potencialmente geradores de conflitos e carregando trabalhos extraclasses encarados como função inerente a profissão.
Esse acúmulo, observado e comprovado no meio educacional entre professores atuantes em sala de aula, conduz a SÍNDROME DE BURNOUT. Inicialmente observada, em 1974 nos profissionais que trabalhavam na recuperação de dependentes químicos, pelo psiquiatra inglês Herbert Freudenberger, que inspirado no título do romance "A Burnt-Out Case", traduzindo: "Um caso liquidado" de Graham Greene, no qual a protagonista Querry fala: "Não me resta praticamente nenhum sentimento pelos seres humanos a não ser pena", Herbert criou o termo "Burnout".
Se faz necessário fundamentar e delimitar os fatores de risco da síndrome e atuar preventivamente, tendo como objetivo principal informar aos professores das causas, principais sinais e sintomas que envolvem os profissionais acometidos pela SÍNDROME DE BURNOUT, para que ele possa procurar ajuda especializada ao diagnosticar qualquer sintoma físico, psíquico, comportamental e/ou defensivo.
Quando o indivíduo considera o seu ambiente de trabalho como ameaçador, quando sua necessidade de realização pessoal e profissional, e/ou sua saúde física ou mental, prejudicam a interação desta como o trabalho e este ambiente tenha demandas excessivas a ela, ou que ela não contenha recursos adequados para enfrentar tais situações (FRANÇA e RODRIGUES, 1997), o desgaste emocional é evidente, e o estresse ocupacional surge de forma significativa, levando o professor ao conflito social e pessoal, o sujeito que antes era envolvido efetivamente com a comunidade escolar em geral, reconhecendo a importância do seu trabalho no desenvolvimento e envolvimento pessoal nas mudanças significativas daquela sociedade, desgasta-se, desiste e perde totalmente o interesse e a energia com a sua função por lhe parecer inútil qualquer esforço, sendo possuído pelo sentimento de incompetência profissional. O professor se vê cercado de sentimentos negativos de si mesmo e para com os outros, aliena-se, isolando-se, torna-se incapaz de lidar com as suas emoções e a de outros, sendo dotado de atitudes desumanas, apresentando problemas de relacionamento interpessoais, a falta de concentração no que esta fazendo é prejudicada, sendo dotado de comportamento de alto risco, seguido por alterações da memória com lapsos constantes, tendo muitas vezes dificuldade de lembrar o que estava fazendo no momento em que estes ocorrem, tendencioso a voltar a rever várias vezes o que já foi realizado. O tempo de resposta nos processos mentais aumenta, propensão a lentidão do pensamento, e estando consciente dos fatos ocorridos, segue o sentimento de distanciamento do ambiente e das pessoas, decorrendo a solidão, vendo-se abandonado e não compreendido pelos demais colegas de profissão e familiares.
Toda essa pressão emocional é em decorrência desta doença ocupacional. Faz com que o indivíduo torne-se insuportável, intransigente, agressivo, apresentando constantemente mudanças de humor, passando de um estágio de euforia ao de tristeza em poucos instantes, estabelece uma paranóia sendo que, para ele todas as demais pessoas se aproveitam do seu trabalho, que não recebem e não o reconhecem por aquilo que realiza, acredita que todos estão prontos para prejudicá-lo, nega as mudanças, não consegue se adaptar a novas situações, evita iniciativas, para ele, a rotina é mais segura, não ha desprendimento mental e/ou físico, torna-se prisioneiro de seus medos e angústias, é incapaz de relaxar, de desfrutar momentos de lazer e férias, o seu cérebro encontra-se em constante atividade, recordando momentos de insatisfação e de mal estar que vivência em seu trabalho.
HORA DE PARAR
No decreto N° 3048/99 que regulamenta a Previdência Social, o grupo V da Classificação Internacional de Doenças (CID) 10 menciona no inciso XII a “Síndrome de Burnout, “Síndrome do Esgotamento Profissional”, também identificada como “Sensação de Estar Acabado”. O profissional tem direito a afastar-se uma vez que tenha sido diagnosticada a Síndrome. “É preciso que as empresas se conscientizem da urgência de reavaliar a cultura de exigir dos funcionários metas, às vezes, impossíveis para um ser humano”. (ARAUJO, Adriana)
SAIBA QUE....
Um estudo feito em outubro pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) revelou que 48% dos 52 mil professores de 1.440 escolas no País sofrem com algum sintoma da doença, como sensação de vazio, comportamento irritadiço e esgotamento nervoso. E mais: 25% deles — o equivalente a um em cada quatro — apresentam o quadro completo da doença. (FONTE: Portal TerraPortal Terra, publicado em 14/08/2007)
Professora há 25 anos, concluo que o desgaste diário no relacionamento com a(s) turma(s), equipe pedagógica e família(s) é a principal causa de Burnout entre os professores. Muitos conflitos são enfrentados diariamente, entre eles alunos que chegam em sala de aula trazendo problemas de casa. Aqueles que fazem questão de demonstrar que não concordam com a nota baixa que tiraram, acredindo emocionalmente o professor (assédio moral não reconhecido por muitos). Alunos indisciplinados de familias omissas. Pais que se eximem da responsabilidade de colaborar e acompanhar a educação de seu filho, dificultando o trabalho do professor. Pais que quando chamados na escola se defendem atancando, criticando o desempenho profissional do professor, alegando, muitas vezes, que o professor não é qualificado para a função, classificando esse profissional e/ou a instituição de ensino de incompetente. As dificuldades transcendem a formação acadêmica do professor, que de um jeito ou de outro, perante a omissão dos segmentos da sociedade, assume a posição de réu .
Afastar-se do trabalho é recomendado
Há cerca de oito anos, o psiquiatra Paulo Pavão está à frente do setor de Psiquiatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, que oferece assistência psiquiátrica aos funcionários da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Entre médicos, professores e outros profissionais de nível médio, como serventes e porteiros, o Pedro Ernesto atende a cerca de 150 servidores estaduais. “Já atendi uma professora que sofria de severa inapetência. Aos poucos, descobri que se tratava, na verdade, de Burnout em conseqüência do assédio moral de uma chefia arbitrária”, lembra.Pavão salienta que a primeira medida a ser tomada é afastar o profissional de seu ambiente de trabalho. A legislação permite, inclusive, que portadores de Burnout tenham direito a licença médica e, em casos considerados mais graves, até a aposentadoria por invalidez. “A melhora do paciente está condicionada à mudança de seu estilo de vida. Muitas vezes, recorremos ao serviço social com o intuito de transferir o profissional de setor ou até mesmo de unidade”, pondera. (BERNARDO, André. Jornal O Dia. Publicado em 03/03/07)
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